Você não controla ninguém
Talvez a maior crise que vivemos no processo de autodeterminação e segurança emocional é admitir que não temos o menor poder sobre as coisas, pessoas e situações. Não é fácil admitir isso. Mas quando acontece, é libertador!
A criança é egocêntrica. E isso faz parte do desenvolvimento psicoemocional. O adulto que quer dominar os outros, ficar multimilionário e impactar na vida das pessoas, seja com ideologias de extermínio populacional ou de ganhar mais prestígio e poder é aquele que não superou a infância. Acredita sim que o meio externo é extensão do próprio ego e desconsidera os outros, as escolhas individuais e a liberdade individual.
É natural e normal a criança fantasiar que se ela chorar no meio do corredor terá seus desejos atendidos. Afinal, ela tem nessa atitude a crença de que a mãe é uma extensão dela e se ela fizer determinados comportamentos, vai controlar a atitude da mãe. Esse raciocínio quando ignorado pelos adultos e não manejado apropriadamente para que a criança saiba distinguir o eu do outro cognitivamente e emocionalmente seguro, fortalece os pactos racionais infantis de controle do externo. E já aviso aos pais, punir só vai reforçar ainda mais o quadro egocêntrico.
A cada punição recebida e a cada fantasia que a criança desenvolve na tentativa de autopreservação, abre-se a possibilidade de uma formação de um pacto na mente daquela criança a acompanhando por toda sua vida desencadeando repetição de sofrimentos, comportamentos e reforço dos pactos estabelecidos. Tais pactos a colocam em um atendimento falso de suas necessidades ou o que nós chamamos de 5% de atendimento das necessidades.
Já testemunhei um pacto criado na mente de uma criança punida pela mãe que tinha a intenção de educá-la para ser uma boa cidadã e o resultado foi um adulto com sérios comprometimentos com abusos de drogas pesadas e comportamentos criminais. Ali naquele momento, o que era um comportamento que poderia ter sido manejado com uma conversa segura e afetuosa trazendo a criança para descobrir que o mundo não era a extensão dos seus desejos, se transformou em um severo espancamento que vincou na mente daquele indivíduo a crença absoluta: sou um bandido! A profecia enfim se realizou.
Os pactos mentais infantis, ou criados até os 7 anos de idade parecem muito legítimos para aquela criança que se sente sozinha, frustrada, isolada, triste, com muito medo. Uma criança que não tem a necessidade de atenção e consideração atendidas, pode desenvolver uma crença de que ela é mais inteligente que até mesmo os próprios pais. E quando ela faz o pacto que é: eu sou mais! Ela vai se desenvolver em cima dessa crença. Sou mais inteligente, sou mais hábil, sou mais forte. É aquele pacto que posiciona o indivíduo na posição de enxergar e saber mais que qualquer pessoa. Uma pessoa muito próxima de mim costumava afirmar que ela quem ensinou a mãe a dirigir...de dentro da barriga!! Claro que era uma afirmação em tom de brincadeira. O subconsciente não brinca. Afirma aquilo que faz sentido. E se a pessoa é mais hábil que os próprios pais, para que aquela convicção se confirme, vai direcionar suas escolhas, atitudes e comportamentos naquela direção. Vai querer ensinar. Vai ter a convicção que os demais são ineficazes e para se sentir segura, precisa que os demais sejam ineptos ou inferiores. É um pacto que a distancia dela e das demais pessoas porque é incapaz de enxergar valor em qualquer outra pessoa. Só tem valor aquele que a desafia e a instiga. Tem que ser muito bom para que ela considere o outro. Na realidade, o sentimento é insegurança. A necessidade não atendida em sua infância foi o amor incondicional negligenciado. Ela precisa provar o próprio valor e para isso, reforça que precisa estar no topo ou na crista.
Romper com os pactos estabelecidos na infância é o momento de se contrariar. É o momento de rever as afirmações reforçadas. É doloroso porque a mente racional vai fazer de tudo para não mudar o pacto. Vai atribuir todos os mecanismos que mantém os pactos. É uma briga dentro da “matrix”.
O processo hipnoterapeutico é um suporte valioso para quem desconfia que as próprias convicções não a tornam a pessoa mais satisfeita do mundo ou aquele que já se cansou de justificar que o problema são os outros (criamos o protocolo dos “outrosnãomedeixamlogia” para auxiliar nesse processo de quebra de pactos insuficientes). Ao invés da pessoa ficar no conflito interno e se ralando entre crenças e convicções, a hipnoterapia vai atuar diretamente na causa não atendida lá na história da infância pessoal.
Em transe, quando o subconsciente vive a segurança emocional, o acolhimento e principalmente o amor incondicional, todas essas crenças são naturalmente derrubadas pelo sistema. Fica natural a mudança e transformação dispensando uma briga interna de confrontos. Vejo muitos dos meus clientes rindo levemente sobre as crenças anteriores sem que se tenha que ficar mostrando ou usando a mente racional para isso. O próprio organismo expulsa os pactos levando a pessoa diretamente para o que ela precisa. O cálculo é feito automaticamente igual o gps faz quando erramos o caminho ao nosso destino. Ele recalcula a rota, desta vez, nos levando diretamente ao que nos interessa. Por isso que a hipnoterapia é uma terapia breve. A maioria das vezes, três atendimentos são suficientes para resgatar a essência de saúde emocional, mesmo com as tragédias vividas ao longo da história pessoal.
Ao se libertar da neurose do controle externo, passamos a dar melhor atenção e dispensar melhores energias a nós próprios e a construir estruturas tão caras e tão importantes para a nossa vida. Construir estratégias de segurança, autonomia, afiliação requer investimento, tempo e energia. E quando alcançamos determinados patamares nesse sentido, aí sim temos acesso ao verdadeiro poder. Isso é liberdade! A liberdade começa e termina no controle central da nossa vida, a mente! E não tem nada a ver com os outros.
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Lorela Casella é Hipnoterapeuta, escritora, publica textos no Jornal Conservador https://t.me/JConservador, no canal no telegram https://t.me/lorelacasella https://t.me/hipnoofficeFoz, publica podcast no
e produz conteúdos no Canal Polivalência no Youtube http://bit.ly/cpseinscreva. Para atendimentos hipnoterapêuticos ou mentoria das necessidades, mande uma mensagem para o WhatsApp: (45) 99862-7809.